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Música pop: a mesma de sempre

Nova música? Se for pop, é a mesma de sempre.

Com apenas os bons e velhos 4 acordes Mi, Si, dó menor e Lá, nessa sequência, uma infinidade de músicas foram e continuam a ser compostas. Quem demonstra bem isso é o grupo Axis of Awesome, com sua música 4 chords:

Observe no vídeo que eles repetem os mesmos 4 acordes no fundo, sem parar, e vão cantando refrões de música conhecidas, mostrando como são todas harmonicamente as mesmas. A estrutura harmônica, em uma notação funcional, é I – V – vi – IV. Uma transposição mais palatável seria Dó – Sol – lá menor – Fá.

Várias considerações podem ser feitas a partir do vídeo acima. A música pop é:

  • conservadora, uma vez que não inova nada;
  • burra, pois não utiliza muita coisa além das mais simples sequências harmônicas;
  • fácil, o que põe por terra o mito de que é preciso talento para se compor música.

Não existem inovações de vulto na estrutura da música pop, que se mantém exatamente a mesma há mais de 500 anos. No máximo, elas fazem variar o arranjo, os timbres e (um pouco) a melodia para que a indústria continue saudável. Na verdade, para se compor música pop, basta apenas cara de pau e uma falta de senso estético, aliada a uma cega e deficiente percepção de ridículo, já filha da falta absoluta de educação musical.

Nem sequer o querido maestro Tom Jobim, com seus malabarismos harmônicos, escapa da crítica: ele permaneceu dentro das regras do sistema tonal, já levada ao extremo por ninguém menos que Bach, há mais de 250 anos atrás. Mas, é verdade, conseguiu ir muito além dos 4 acordes. Como poucos em nossa MPB.

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P.S.: por que repetimos e repetimos sempre a mesma sensação? É preciso buscar a razão na psicanálise – talvez a tal wiederholen lacaniana.

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Educação

Nossa pobre formação intelectual

O que faz alguém ser realmente bom no que faz?

Dizem-nos que aprender qualquer coisa requer tempo e dedicação, acompanhados do esforço constante, prolongado e refletido. Sabemos disso na prática, mas ainda assim mantemos a frágil esperança de um dia vir a aprender por osmose, aproveitando a preguiça essencial de nosso ser inculto. Será que não existe um atalho para a excelência? Não seriam os casos raros de gênios um favorecimento desonesto da genética?

O desempenho de alto nível em qualquer atividade só chega após 10.000 horas de prática, em média, como afirmam os especialistas:

Pesquisadores (Bloom (1985), Bryan & Harter (1899), Hayes (1989), Simmon & Chase (1973)) demonstraram que uma pessoa leva cerca de dez anos para se tornarem peritas em qualquer uma de uma grande variedade de áreas, includindo jogar xadrez, composição musical, operação de telégrafo, pintar, tocar piano, nadar, jogar tênis e pesquisar neuropsicologia ou topologia. A chave é a prática constante: não apenas fazer de novo e de novo, mas se desafiar em uma tarefa que está um pouco além da sua capacidade atual, de tentar, analisando o seu desempenho durante e após a prática, e corrigir eventuais erros. Em seguida, repita. E repita novamente. Não parece haver atalhos: até Mozart, que foi um prodígio musical aos 4 anos, levou mais 13 anos antes de começar a produzir música de primeira classe. Em outro gênero, os Beatles parecem ter surgido em cena com uma sequência de top hits e uma aparição no show do Ed Sullivan em 1964. Mas eles vinham tocando em pequenos clubes em Liverpool e Hamburgo desde 1957, e ainda que tivessem apelo das massas desde o começo, o seu primeiro grande sucesso, o Sgt. Peppers, foi lançado em 1967. Malcolm Gladwell relata um estudo feito com alunos da Academia de Música de Berlim, que comparou o terço superior, o médio e o terço inferior da classe, além de ter perguntado o quanto eles haviam praticado:

“Todos, de todos os três grupos, começaram a tocar mais ou menos na mesma época – cerca de cinco anos de idade. Naqueles primeiros anos, todos praticaram aproximadamente a mesma quantidade – cerca de duas ou três horas por semana. Mas em torno da idade de 8 anos, as diferenças começaram a surgir. Os alunos que acabariam como os melhores da classe começaram a praticar mais do que todos os outros: 6 horas por semana aos 9 anos, 8 horas aos 12 anos, 16 horas aos 14 anos, e cada vez mais, até que na idade de 20 eles estavam praticando bem mais do que 30 horas por semana. Com a idade de 20, os artistas elite tinham todos totalizado 10.000 horas de prática ao longo de suas vidas. Os alunos simplesmente bons totalizaram, por outro lado, 8.000 horas, e os futuros professores de música, um pouco mais de 4.000 horas.”

Pode ser então que 10.000 horas, não 10 anos, seja o número mágico. Henri Cartier-Bresson (1908-2004) disse que “Suas primeiras 10.000 fotografias são suas piores”, mas ele tirava mais de uma por hora. Samuel Johnson (1709-1784) pensa que pode levar ainda mais tempo: “Excelência em qualquer departamento só pode ser alcançada com o trabalho de uma vida, e não pode ser comprada por um preço menor.” E Chaucer (1340-1400) reclamou “ó vida tão curta, a arte tão longa para aprender”. Hipócrates (c. 400 a.C.) é conhecido pelo provérbio “ars longa, vita brevis”, que faz parte do trecho mais longo “Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile”, que em português fica mais ou menos “A arte é longa, a vida é breve, a ocasião é fugaz, a experiência é perigosa, o juízo é difícil”. Embora em latim “ars” possa significar tanto “arte” quanto “ofício”, no original grego a palavra “techné” só pode significar “habilidade”, não “arte”.

A citação acima vem de um excelente artigo de Peter Norvig, relacionado à excelência em programação. As referências que ele faz podem ser também lá verificadas.

A quase totalidade de todos os profissionais estuda muito menos do que 10.000 horas para poderem exercer suas profissões, o que nos faz pensar seriamente sobre a pobreza e deficiência de suas formações. Poucos realmente se dedicam para se tornar expoentes em seu campo de atuação. Considerando que um curso superior de 4 anos, em uma universidade federal, exige cerca de 3.000 horas de aulas e práticas, e que quase todos os alunos chegam lá sem saber absolutamente nada do que estudarão, podemos supor que os profissionais com curso superior no Brasil são mal formados, ou precisam de muito mais para se tornar profissionais destacados em seus campos. Mestrados e doutorados não fazem com que o sujeito alcance as 10.000 horas mágicas. Por outro lado, e considerando a Lei de Sturgeon, que diz que 95% de tudo é lixo, estamos bem além do necessário. Infelizmente.

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Antropologia Educação Matemática

Vivendo sem números

Vamos pensar um pouco agora sobre o que é matemática através de uma tribo indígena do Brasil, composta de pouco mais de trezentos e cinquenta membros: os pirahãs.

A história que vamos contar é bastante conhecida de linguistas de todo o mundo. Em 1977, o então missionário, hoje linguista de fama internacional, Daniel Everett, veio dos Estados Unidos ao Brasil para realizar a tarefa nada original de cristianizar alguns índios. Em suas andanças pela Amazônia, Everett se deparou com uma tribo indígena que vivia às margens do rio Maici. Eles eram conhecidos como pirahãs, um grupo bastante isolado do restante da população local. Everett resolveu se estabelecer, com toda a família, entre eles.

Um pirahã e Everett

Com o tempo e a convivência, Everett foi percebendo uma série de características interessantes da tribo. Eles não possuíam mitos de criação e não se lembravam de ancestrais anteriores a seus avós. Sua língua não contava com palavras para cores e, o que é mais importante, sua gramática contrariava as teorias do linguista e ativista político norte-americano Noam Chomsky, talvez o intelectual mais influente de todo o mundo. Esse é o ponto que torna mundialmente famoso esse pequeno grupo de pessoas: estão no centro de um longo, antigo e furioso debate sobre as origens da linguagem humana.

Mas o que nos interessa aqui, no entanto, é uma outra descoberta fundamental de Everett: os pirahãs não têm palavras para números. Chegam, no máximo, a utilizar uma única palavra, ‘hói’, para indicar ‘pouco’ ou ‘pequeno’. Uma, duas ou três pedras na mão são ‘hói’. Se forem bem pequenas, um punhado de vinte delas também são ‘hói’. Entre eles, a noção de quantidade parece inexistente.

Pirahãs

Pesquisadores e antropólogos de todas as áreas e de todo o mundo têm testado a paciência dos pirahãs com inúmeras pesquisas que comprovam, sem sombra de dúvida, que eles não só não contam, como também não se interessam em aprender a contar. Nem mesmo apenas um, dois, três, como os índios xetás, também da Amazônia. Os pirahãs são um povo que não possui aritmética, mínima que seja.

Enquanto isso, livros e mais livros de divulgação científica espalham a ideia de que a noção de contagem é universal, que a noção de número é algo genético. Outros pesquisadores afirmam ainda que a marca distintiva da humanidade é sua capacidade de fazer matemática. E nos perguntamos, assim, o que significa matemática para esses autores…

Como em toda pesquisa antropológica, baseada na observação detalhada e na coleta extensa de dados, há quem discorde das teses de Everett. Até que a situação seja definitivamente esclarecida (se isso existe em antropologia e linguística), ficamos com a sugestão de que, afinal, a matemática não é uma característica comum à espécie humana, mas algo local, temporal, social, como tudo o mais na cultura.

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Esperanto Geral Línguas

Adele em esperanto

Um excelente cover da música “Hello”, da Adele, em esperanto:

Há mais algumas dezenas de covers e músicas originais em esperanto. Basta clicar nas sugestões laterais que o Youtube oferece para encontrar um pouco de tudo.

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Esperanto Geral Línguas

Dom Quixote em esperanto

Um dos dos mais sarcásticos, mordazes, irônicos, engraçados e inteligentes livros do mundo, Dom Quixote de la Mancha, está disponível também em esperanto:

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