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Conlínguas Interlinguística

Classificando conlínguas – Uma proposta de nomenclatura

As conlínguas – línguas construídas – estão aí há séculos, mas ainda há pouco de definitivo sobre elas. Apesar de a interlinguística ser um ramo da linguística bem estabelecido, muitos de seus praticantes se esquecem que a construção de línguas é também um fenômeno popular que se desenvolve à margem das considerações estritamente científicas dos interlinguistas profissionais. E existem criações interessantes fora do ramo profissional.

Uma delas é a invenção do termo conlang, do inglês constructed language, que já está oficializado pela prática e pela existência de uma sociedade de criadores de línguas, a Language Creation Society, cujo site pôs na ordem do dia o termo conlang.

Aceitando o termo inglês, criei o paralelo português conlíngua, que mais alguém já deve ter recriado em  algum lugar. A crítica a esse termo é que o prefixo con-, em português, tem obviamente outro significado que não construído. Mesmo ciente desse problema, e ciente de que, em um nível morfossintático mais elevado, o processo de construção de palavras portuguesas não reconhece esse tipo de formação, adotei o termo assim mesmo, por me lembrar do termo inglês e pela possibilidade de criar ainda outras palavras.

Outros termos, segundo uma tradição que vem ganhando força na internet, seriam:

  • artelíngua (artlang): língua artificial criado com propósitos ficcionais ou artísticos, como a Klingon, a Sindarin, a Dothraki.
  • auxilíngua (auxlang): língua artificial criada com o propósito explícito de ser uma língua auxiliar, como o Esperanto, a Interlingua e a Elefen.
  • engelíngua (engelang): língua natural modificada (“engenheirada”), em geral simplificada, para atingir a alguma propósito, como a Latino sine Flexione e a Basic English.
  • etnolíngua (ethnolang): língua natural, de um povo ou etnia, como o português e o inglês. Também é conhecida como natlíngua (natlang).
  • filolíngua (philolang): língua artificial filosófica, em geral a priori, como a Ars Signorum de Dalgarno, o Real Character de Wilkins e, em grande medida, a Ithkuil.
  • logilíngua (loglang): língua artificial criada com base na lógica matemática ou em outras estruturas matemáticas, como a Lojban, a Voksigid e a Ceqli.

Essa nomenclatura não nos parece uma das melhores, mas simplifica muito o trabalho de classificar, em uma primeira aproximação, o universo das conlínguas. Fiquemos com elas até novos debates e novas críticas, pois uma nomenclatura que se pretende usual em uma comunidade não pode ser obra de apenas alguns indivíduos.

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Conlínguas Interlinguística

A classificação a priori e a posteriori das conlínguas

Na tentativa de domar a multidão de conlínguas que surgiam, os linguistas criaram a clássica distinção entre conlíngua a priori e conlíngua a posteriori. Como muitas outras, esta é uma classificação que não tem fronteiras bem definidas, além de não ser devidamente utilizada. Mas o que significam esses termos?

Uma conlíngua a posteriori é baseada em línguas naturais. O termo a posteriori, em si, indica que a conlíngua em questão veio depois das línguas naturais em que se baseia. Uma língua a priori, por sua vez, é pensada sem línguas naturais em mente, uma criação que se dá muitas vezes por puro devaneio linguístico.

Mas uma vez que todas as conlínguas, se planejadas para serem faladas, sempre acabam se baseando em conceitos de natlínguas, essa classificação não é muito precisa. E mesmo que por oposição: a Klingon foi deliberadamente construída para se localizar o mais distante possível das línguas humanas. A ordem mais comuns das palavras em Klingon, por exemplo, é  objeto-verbo-sujeito (ordem OVS), o que rarissimamente encontramos em natlínguas. A língua indígena tapirapé, do Brasil, é uma delas (mas ordem objeto-sujeito-verbo – OSV – é ainda mais rara).

Uma língua genuinamente a priori, a rigor, não existe. Mesmo as línguas a priori dos śeculos XVI e XVII, por mais esquemáticas que sejam, acabam importando ideias simples de natlínguas, como a existência de substantivos e verbos como classes distintas de palavras. A não ser que consideremos algumas línguas de programação exóticas, como a Brainf*ck e a Piet, uma pitada conceitual a posteriori acaba se introduzindo nas línguas a priori.

Mesmo imperfeita, essa classificação é popular, e por isso não vamos dispensar seu uso quando precisarmos nos referir a línguas extremamente estranhas e bem distantes das práticas linguísticas naturais.

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Conlínguas Esperanto Interlinguística

Centralidade do esperanto

Não é novidade que, até a presente data, o esperanto seja a principal e mais bem conhecida conlíngua. Sua centralidade na interlinguística é historicamente abalizada. Amadores e profissionais do ramo não podem prescindir de conhecer suas principais características.

Para nossas pesquisas, é conveniente adotar o esperanto como termo de comparação para outras conlínguas, colocá-lo no centro, tomá-lo com ponto de partida e alvo de todo tipo de crítica. O esperanto é suficientemente maduro e estável para sofrer, como sofreu, as mais profundas e contundentes críticas e permanecer firme, estável, o que promove uma boa cientificidade a nossas reflexões.

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Conlínguas

Conceitos de conlínguas

Quais são os conceitos que as línguas empregam para lidar com o real? Essa pergunta, de raízes ancestrais, tem chamado minha atenção por ser bastante geral e suficientemente profunda para dar início a uma reflexão série acerca da criação de línguas planejadas.

A ideia é questionar tudo, desde perguntas que partem de conceitos gramaticais tradicionais (Artigos são necessários? A divisão de gêneros é necessária?) até noções gerais de que uma língua costuma tratar (Como expressar tempo? Como expressar relações espaciais?). Em última análise, estamos perguntando como uma língua expressa os elementos mais comuns da realidade cotidiana. Não pretendemos criar línguas filosóficas perfeitas, mas línguas faláveis e expressivas, ficcionais, auxiliares ou lógicas, com grande consciência acerca do conjunto de conceitos que incorporam em seus elementos gramaticais.

Respondendo as questões feitas no parágrafo anterior, sabemos que artigos definidos ou indefinidos não são necessários: o latim e o russo não os conhecem. Sabemos que divisão em gêneros não são obrigatórias: o finlandês e o húngaro têm um só pronome para o masculino e o feminino. Como o tempo é expresso? É possível criar uma śerie de tempos verbais, com sutilezas de aspectos e tudo o mais, mas a verdade é que fatos ocorridos e fatos ainda não ocorridos, assim como os que estão em curso, podem ser expressos sem a necessidade de flexões verbais, como o chinês faz. O mesmo com as relações espaciais.

Ao pensar um pouco mais acerca de como uma língua expressa o mundo, percebemos que sua utilidade depende muito de sua imprecisão e daquilo que alguns filósofos consideram “defeitos”, como a polissemia e a assimetria de formas. Se essas características são expressões materiais de como a mente funciona, seria possível falar, rigorosamente, uma língua lógica? E seria possível criar um língua absolutamente sem ambiguidades? Abordaremos essas questões nas próximas postagens.

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Interlinguistas

Alexander Gode

Alexander Gottfried Friedrich Gode-von Aesch (1906-1970) trabalhou na IALA de 1939 a 1953. Foi o principal criador da interlingua.


Alexander Gode, um dos fundadores e primeiro presidente da American Translators Association, foi contratado pela IALA em 1939. Depois de mais de uma década trabalhando no projeto, juntamente com vários outros eminentes linguistas, como André Martinet (1908-1999), Gode lança, em 1951, o clássico Interlingua-English Dictionary, dando início à história “externa” da interlingua.

Foi tradutor, ficcionista e escreveu de mais de uma dezenas de livros de aprendizado de línguas e linguística.