Categorias
Esperanto

Por que aprender esperanto? (I)

Já fazem 25 anos desde que, pela primeira vez, terminei um curso completo de esperanto – a leitura do Esperanto sem Mestre – e tive minha primeira conversação. A partir de então, e depois de centenas de livros, depois de centenas de contatos com pessoas de todo o mundo, ainda não vejo definida com precisão minha postura em relação ao esperanto. Com esta postagem pretendo começar uma série de reflexões consistentes sobre o assunto.

Acredito, ainda hoje, que aprender esperanto vale a pena. Principalmente, e em primeiro lugar, pelas habilidades linguísticas que ele proporciona. É mais ou menos óbvio que o esperanto funciona como segunda língua ou como língua auxiliar na comunicação internacional, algo evidente há quase 130 anos. Os incrédulos podem visitar o Youtube e procurar por si sós os milhares de vídeos de pessoas de países diversos conversando umas com as outras em esperanto. Mas esse é, a meu ver, o que o esperanto tem de trivial para oferecer: qualquer língua serve para a comunicação internacional, desde que os falantes estejam de acordo em utilizá-la.

Faço foco aqui nas habilidades linguísticas que o esperanto proporciona. Em poucas horas – eu diria até em poucos minutos – já é possível ver com clareza como a língua funciona. Não o esperanto, mas qualquer língua. A extrema simplicidade e a regularidade do esperanto chegam muitas vezes ao caroço da ideia do que é de fato uma língua, e o que significa falar uma língua que não a própria. Essas duas experiências – a percepção intelectual do que seja uma língua e a vivência de falar outra língua – são definitivamente poderosas. A partir delas, meu mundo linguístico nunca mais foi o mesmo.

Assim como nadar, andar de bicicleta ou aprender desenho de observação, o esperanto proporciona acesso à habilidade de falar outra língua. É uma ferramenta propedêutica de primeira linha, agindo como uma flash ou percepção súbita de como as coisas funcionam. Nenhuma outra língua me permitiu o acesso a essa habilidade natural de maneira tão direta quanto o esperanto. Isso porque, simplesmente, línguas naturais são selvas de irregularidades, exceções, modos de falar e de se expressar particulares que apenas o nativo conhece em profundidade. O esperanto permite a criação dessas expressões in loco, na hora da fala, e ainda ser compreendido sem o menor problema. Em verdade, é um prazer ver e ouvir essa criação espontânea, expressiva e criativa a cada novo contato, o que definitivamente não ocorre quando falo em inglês.

O que relatei pode ser resumido em dizer que o esperanto é uma excelente propedêutica para o aprendizado de línguas. Ou seja, o esperanto serve muito bem como ponto de partida para o aprendizado mais eficiente de outra língua, seja natural ou artificial. Um esperantista médio acaba aprendendo muito mais línguas do que outras pessoas, simplesmente porque ele agora sabe como se portar em relação a elas. E aprende rápido e com segurança. Por quê? Porque o esperanto “destrava” a cabeça e mostra o caminho. Isso aconteceu comigo e com quase todo mundo que conheço no ramo.

Desenvolverei outras respostas à pergunta por que aprender esperanto em outras postagens. Fique ligad@!

Por Frederico Lopes

Frederico Andries Lopes é doutor em Educação Matemática pela UNESP/Rio Claro e professor associado do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá.

É tradutor de textos antigos de matemática escritos principalmente em latim. Já publicou livros sobre o uso educativo de linguagens de programação, sobre gramática latina e história da matemática.

É pai orgulhoso dos trigêmeos Henrique, Ricardo e Valquíria e das gêmeas Laura e Leonora. Cuidar dessa turma é sua principal atividade. Tudo o mais são distrações e difficiles nugae.