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BASIC Programação

Por que o Joãozinho não consegue programar?

Pais e educadores: vocês têm que voltar às raízes

Tela do BASIC-256

Pelo menos é o que afirma, involuntariamente, David Brin, no seu excelente e influente artigo Why Johnny can’t code, um daqueles que mereciam uma tradução cuidada em português.

Mesmo sem saber inglês, o Google Translator, ou outro, podem dar uma mãozinha com o problema da língua, para que possamos ver o problema da linguagem: é simplesmente impossível ensinar a programar partindo de Java. Fui professor de Java — e de C, Pascal, Logo, Basic, … — e sei do que estou falando.

Voltei a dar aulas de programação, e voltei a refletir sobre as dificuldades dos professores de computação em fazer seus alunos raciocinarem algoritmicamente. E pior, em pensarem, de um modo geral, acerca de como um problema qualquer é resolvido. Pior ainda, como é resolvido quando deve ser expresso em uma linguagem de programação nos diversos e desconcertantes paradigmas que existem por aí.

O fato claro, evidente e consumado acerca da programação é que a maioria das pessoas que um dia escreverão qualquer linha de código vão acabar programando em uma linguagem parecida com C, ou mesmo baseada diretamente nela. Olhando rapidamente o índice Tiobe, vemos que quase 100% linguagens “TOP 20” (pelo menos “top” para o índice Tiobe…) são parecidas com C. A probabilidade de você um dia programar em uma delas é imensa.

David Brin argumenta que o crescimento de linguagens “complicadas” tem impedido o aprendizado das próprias linguagens. Isso é algo óbvio há, pelo menos, uns 40 anos, desde o surgimento do Pascal, que nasce para simplificar o desenvolvimento de programas e ensinar programação. Antes dele, porém já tínhamos o BASIC, fazendo a mesma coisa.

Deixado de lado pelos seus aparentes defeitos, e pela também aparente falta de capacidades para lidar com as modernas exigências de programação, o BASIC, que vinha por padrão em cada computador pessoal comprado na década de 1980, continua sendo a linguagem mais clara e simples para se programar qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, inclusive jogos em 3D e coisa e tal. Por isso a escolhi para dar um micro-curso para meus alunos, para que possam se introduzir no ramo da programação feliz. Ei-lo aqui, para sua alegria.

Há muito mais para se saber e se aprender sobre o BASIC-256. Os links nas lições podem levar a sites de interesse. Mas perca algum tempo tentando mexer diretamente nela,  e explorando o que oferece o site principal.

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Educação

Nossa pobre formação intelectual

O que faz alguém ser realmente bom no que faz?

Dizem-nos que aprender qualquer coisa requer tempo e dedicação, acompanhados do esforço constante, prolongado e refletido. Sabemos disso na prática, mas ainda assim mantemos a frágil esperança de um dia vir a aprender por osmose, aproveitando a preguiça essencial de nosso ser inculto. Será que não existe um atalho para a excelência? Não seriam os casos raros de gênios um favorecimento desonesto da genética?

O desempenho de alto nível em qualquer atividade só chega após 10.000 horas de prática, em média, como afirmam os especialistas:

Pesquisadores (Bloom (1985), Bryan & Harter (1899), Hayes (1989), Simmon & Chase (1973)) demonstraram que uma pessoa leva cerca de dez anos para se tornarem peritas em qualquer uma de uma grande variedade de áreas, includindo jogar xadrez, composição musical, operação de telégrafo, pintar, tocar piano, nadar, jogar tênis e pesquisar neuropsicologia ou topologia. A chave é a prática constante: não apenas fazer de novo e de novo, mas se desafiar em uma tarefa que está um pouco além da sua capacidade atual, de tentar, analisando o seu desempenho durante e após a prática, e corrigir eventuais erros. Em seguida, repita. E repita novamente. Não parece haver atalhos: até Mozart, que foi um prodígio musical aos 4 anos, levou mais 13 anos antes de começar a produzir música de primeira classe. Em outro gênero, os Beatles parecem ter surgido em cena com uma sequência de top hits e uma aparição no show do Ed Sullivan em 1964. Mas eles vinham tocando em pequenos clubes em Liverpool e Hamburgo desde 1957, e ainda que tivessem apelo das massas desde o começo, o seu primeiro grande sucesso, o Sgt. Peppers, foi lançado em 1967. Malcolm Gladwell relata um estudo feito com alunos da Academia de Música de Berlim, que comparou o terço superior, o médio e o terço inferior da classe, além de ter perguntado o quanto eles haviam praticado:

“Todos, de todos os três grupos, começaram a tocar mais ou menos na mesma época – cerca de cinco anos de idade. Naqueles primeiros anos, todos praticaram aproximadamente a mesma quantidade – cerca de duas ou três horas por semana. Mas em torno da idade de 8 anos, as diferenças começaram a surgir. Os alunos que acabariam como os melhores da classe começaram a praticar mais do que todos os outros: 6 horas por semana aos 9 anos, 8 horas aos 12 anos, 16 horas aos 14 anos, e cada vez mais, até que na idade de 20 eles estavam praticando bem mais do que 30 horas por semana. Com a idade de 20, os artistas elite tinham todos totalizado 10.000 horas de prática ao longo de suas vidas. Os alunos simplesmente bons totalizaram, por outro lado, 8.000 horas, e os futuros professores de música, um pouco mais de 4.000 horas.”

Pode ser então que 10.000 horas, não 10 anos, seja o número mágico. Henri Cartier-Bresson (1908-2004) disse que “Suas primeiras 10.000 fotografias são suas piores”, mas ele tirava mais de uma por hora. Samuel Johnson (1709-1784) pensa que pode levar ainda mais tempo: “Excelência em qualquer departamento só pode ser alcançada com o trabalho de uma vida, e não pode ser comprada por um preço menor.” E Chaucer (1340-1400) reclamou “ó vida tão curta, a arte tão longa para aprender”. Hipócrates (c. 400 a.C.) é conhecido pelo provérbio “ars longa, vita brevis”, que faz parte do trecho mais longo “Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile”, que em português fica mais ou menos “A arte é longa, a vida é breve, a ocasião é fugaz, a experiência é perigosa, o juízo é difícil”. Embora em latim “ars” possa significar tanto “arte” quanto “ofício”, no original grego a palavra “techné” só pode significar “habilidade”, não “arte”.

A citação acima vem de um excelente artigo de Peter Norvig, relacionado à excelência em programação. As referências que ele faz podem ser também lá verificadas.

A quase totalidade de todos os profissionais estuda muito menos do que 10.000 horas para poderem exercer suas profissões, o que nos faz pensar seriamente sobre a pobreza e deficiência de suas formações. Poucos realmente se dedicam para se tornar expoentes em seu campo de atuação. Considerando que um curso superior de 4 anos, em uma universidade federal, exige cerca de 3.000 horas de aulas e práticas, e que quase todos os alunos chegam lá sem saber absolutamente nada do que estudarão, podemos supor que os profissionais com curso superior no Brasil são mal formados, ou precisam de muito mais para se tornar profissionais destacados em seus campos. Mestrados e doutorados não fazem com que o sujeito alcance as 10.000 horas mágicas. Por outro lado, e considerando a Lei de Sturgeon, estamos bem além do necessário. Infelizmente.

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Evolução Música

Música evoluindo a partir de ruído

Mais darwinismo: agora, uma música evolui a partir do ruído!

O site darwintunes.org, do Imperial College de Londres, criou um algoritmo para simular a evolução natural não com seres vivos, mas com sons: a partir de ruídos, e depois de milhares de gerações, uma música muito boa de se ouvir emerge. É o anti-criacionismo musical.

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Educação musical Música

Música popular: a mesma de sempre

Nova música? Se for popular, provavelmente é a mesma de sempre.

Com apenas os bons e velhos 4 acordes – dó, sol, lá menor e fá, nessa sequência -, uma infinidade de músicas foram e continuam a ser compostas, muitas que amamos, como o vídeo acima demonstra bem.

O que poucos querem admitir é que, apesar de vozes discordantes de amantes da música popular, não existem novidades ou inovações de vulto na estrutura da música popular, que se mantém exatamente a mesma há mais de 500 anos. E continuamos ouvindo as músicas, que fazem variar o arranjo, os timbres e (um pouco) a melodia para que a indústria continue saudável.

Várias considerações podem ser feitas a partir do vídeo acima. A música popular é:

  • conservadora, uma vez que não inova nada;
  • burra, pois não utiliza muita coisa além das mais simples sequências harmônicas;
  • fácil, o que põe por terra o mito de que é preciso talento para se compor música.

Na verdade, para se compor música popular basta apenas cara de pau e uma falta de senso estético, aliada a uma cega e deficiente percepção de ridículo, já filha da falta absoluta de educação musical.

Nem sequer o querido maestro Tom Jobim, com seus malabarismos harmônicos da bossa nova, escapa da crítica: ele permaneceu dentro das regras do sistema tonal, já levada ao extremo por ninguém menos que Bach, há mais de 250 anos atrás.

Curta o vídeo e medite.

***

P.S.1: para não dizerem que esta é só mais um achismo: http://migre.me/fePSJ

P.S.2: por que repetimos e repetimos sempre a mesma sensação? É preciso buscar a razão na psicanálise – a tal wiederholen lacaniana.

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Religião

Intolerância religiosa: um experimento prático

Você acha que no Brasil existe tolerância religiosa?

É parte do discurso da maioria das religiões a pregação da tolerância, decerto mais por questões políticas do que morais, mas mantenho a hipótese contrária: cristãos – católicos, evangélicos, etc. – são intolerantes com crenças diferentes das suas. Um experimento prático, que passarei a descrever, pode provar isso.

Costumo viajar bastante de carro por pelo menos quatro regiões do Brasil. Em todas elas, vejo placas nas estradas, afixadas em árvores ou postes, com dizeres do tipo “Jesus retornará”, “Deus te ama”, ou com citações bíblicas as mais diversas. É notável também que esse proselitismo seja cristão e, consequentemente, monoteísta. Daí surgiu a ideia central do meu experimento: colocar placas do tipo “Deus não existe” em outros postes ou árvores pelas estradas, e verificar quanto tempo cada uma resiste até que alguém venha arrancá-la.

Se você gostou da ideia e deseja vê-la realizada, faça o seguinte:

  • mande pintar uma série de placas com os dizeres “Deus não existe”, ou pinte-as você mesmo, para reduzir custos;
  • determine os locais de fixação;
  • fixe as placas e anote o dia e a hora em que foram afixadas;
  • passe discreta e diariamente pelos locais das placas, verificando quanto tempo levou para que fossem destruídas, pichadas ou arrancadas.

Será preciso tomar uma śerie de medidas de segurança também, para escapar da inevitável violência que certamente será direcionada para quem for visto afixando as placas:

  • afixe as placas à noite;
  • vá com um carro velho, se possível com as placas cobertas;
  • escolha lugares afastados de casa, sem conhecidos por perto;
  • não leve crianças;
  • tome cuidado com a polícia.

Esses cuidados são básicos e autoevidentes. Em casos de medo extremo, ir de boné e óculos escuros, realizando o trabalho rapidamente

É interessante também, caso você veja alguém destruindo ou arrancando a placa, ir elogiar, criar um clima de amizade e perguntar para o vândalo qual sua filiação religiosa. Estatisticamente, há 90% de chances que seja cristão, segundo o censo de 2010.

***

P.S.: Um aluno meu, católico, confessou que teria medo de realizar o experimento. Segundo ele, é óbvio que ele iria apanhar se fosse pego afixando as placas. Também acredito que seja óbvio, mas gostaria de filmar isso.