Categorias
Educação Matemática Programação

FMSLogo

O FMSLogo é uma implementação livre e continuamente atualizada de um ambiente LOGO muito parecido com o SuperLogo. Pode ser baixado gratuitamente aqui (clique no botão “Download”).

O FMSLogo suporta, além dos gráficos tradicionais criados com a tartaruga

  • manuseio de exceções
  • redes TCP/IP
  • textos escritos com fontes variadas
  • até 1024 tartarugas independentes
  • tartarugas no formato bitmap
  • manuseio de MIDI (som e música)
  • controle de hardware externo (robótica)
  • comunicação em portas paralelas e seriais (USB)
  • chamada de DLLs nativas e outras bibliotecas de funções
  • criação de janelas no estilo Windows
  • programação orientada a evento (mouse, teclado, etc.)
  • controle de multimídia
  • desenho em 3D
  • criação de GIFs animadas

Uma das vantagens do FMSLogo é que ele pode ser usado com o material do SuperLogo, mas vai além e oferece comandos não encontrados naquele programa.

Categorias
Política Software livre

Facebook não é seu amigo

Mas persistimos no erro…

Alguém, um dia, fez com que eu me sentisse um completo idiota por ter abandonado o Facebook. Não: foram, e tem sido, quase todo mundo. Por que insisto?

Há tempos não uso mais Windows. Afinidades com o mundo do software livre me fizeram passar pela porta estreita da reflexão sobre como estamos entregues – e somos controlados – pelas grandes empresas da internet. Coisa de maluco, eu sei , ficar falando dessas coisas, mas tenho 5 filhos para criar, e não desejo que eles se tornem sequer próximos dos meus alienados alunos universitários. Explico por quê.

Há pouco tempo, revelou-se ao mundo que a NSA, a Agência Nacional de Segurança dos EUA, desde 2007, com anuência do Congresso Americano, espiona cidadãos do mundo todo, inclusive brasileiros, através de grandes empresas como Apple, Facebook, Google e Microsoft. Esta, aliás, foi a primeira a aderir ao projeto de espionagem, em 2007. (Não se iluda: a cada busca que você faz DENTRO de seu computador – observe, não é na internet -, o Windows envia para os servidores da Microsoft sua atividade, o que você tem no computador, e tudo o mais que for possível, inclusive de quais sites você baixa seus filmes pornôs. Éééé… )

Essa revelação, feita por Edward Snowden, um ex-agente da NSA, causou revolta e furor no mundo inteiro, e revelou que os EUA eram até ingênuos em espionagem, como nos mostra o caso Tempora inglês. Enfim, morrendo de medo de terrorismo, os EUA e outros países estão vendendo liberdade por segurança, e em breve não terão nem uma nem outra, como já advertia, há mais de 200 anos, um dos pais da pátria americana, Benjamin Franklin.

Dizem que a ABIN brasileira, nossa tosca Agência de Informação, grampea o WhatsApp do povo todo, e também o Instagram e o Twitter, para começar (ela não tem dinheiro para mais…) agindo de forma absurdamente ilegal aqui mesmo no nosso quintal. E com que finalidade? Controlar os protestos que vimos e temos visto desde princípios de junho deste ano.

Daí,  se você acha que o problema é privacidade, você ainda está no primeiro passo. Se você acha que podem te espionar, pois você não tem nada a esconder, você não captou a mensagem: o governo está interessado em mantê-lo sob controle através da negação de seus direitos fundamentais de cidadão. Ainda que esses gritos de alerta tenham se tornados aparentemente obsoletos, eles têm sido confirmados pelos atuais acontecimentos. Preocupar-se com a bisbilhotice do governo não é questão de manter privacidade, mas a de responder afirmativa ou negativamente à pergunta: você quer viver sob um estado policial que controla e nega suas liberdades fundamentais como ser humano?

O caminho é longo. Doloroso às vezes, mas gratificante emocionalmente. Foi quando abandonei meu email no Gmail, quando percebi que precisava pagar por um serviço de email, eu entendi como é caro ter um email. Não só financeiramente, mas politicamente. Outlook, da Microsoft, Gmail, do Google, e por aí vai, são armadilhas de controle social nas mãos de grandes empresas. O governo não precisa gastar um centavo para espionar seus cidadãos: basta associar-se às empresas, cedendo-lhes favores, como isenção de impostos e coisa e tal, para ter acesso aos dados que elas coletam – e vendem, a preços altíssimos – sobre você.

Em verdade, eu me sinto me libertando tanto da Matrix, enquanto noção de que a realidade é fabricada por outrem para nos controlar, como da verdadeira Matrix, aumentando minha consciência política, social, e até como consumidor (por exemplo, não compre pela Amazon, que maltrata e desrespeita seus empregados). Não é fácil começar, mas talvez este vídeo, do Richard Stallman (quem é Richard Stallman?) ajude um pouco. Simples e educativo.

Se você algum dia se decidir a trocar o Windows, o MacOS ou outro sistema operacional pago – e traiçoeiro – por algum sistema operacional livre, como o Linux, o site a seguir é de visita imprescindível: https://prism-break.org/

Categorias
BASIC Programação

Por que o Joãozinho não consegue programar?

Pais e educadores: vocês têm que voltar às raízes

Tela do BASIC-256

Pelo menos é o que afirma, involuntariamente, David Brin, no seu excelente e influente artigo Why Johnny can’t code, um daqueles que mereciam uma tradução cuidada em português.

Mesmo sem saber inglês, o Google Translator, ou outro, podem dar uma mãozinha com o problema da língua, para que possamos ver o problema da linguagem: é simplesmente impossível ensinar a programar partindo de Java. Fui professor de Java — e de C, Pascal, Logo, Basic, … — e sei do que estou falando.

Voltei a dar aulas de programação, e voltei a refletir sobre as dificuldades dos professores de computação em fazer seus alunos raciocinarem algoritmicamente. E pior, em pensarem, de um modo geral, acerca de como um problema qualquer é resolvido. Pior ainda, como é resolvido quando deve ser expresso em uma linguagem de programação nos diversos e desconcertantes paradigmas que existem por aí.

O fato claro, evidente e consumado acerca da programação é que a maioria das pessoas que um dia escreverão qualquer linha de código vão acabar programando em uma linguagem parecida com C, ou mesmo baseada diretamente nela. Olhando rapidamente o índice Tiobe, vemos que quase 100% linguagens “TOP 20” (pelo menos “top” para o índice Tiobe…) são parecidas com C. A probabilidade de você um dia programar em uma delas é imensa.

David Brin argumenta que o crescimento de linguagens “complicadas” tem impedido o aprendizado das próprias linguagens. Isso é algo óbvio há, pelo menos, uns 40 anos, desde o surgimento do Pascal, que nasce para simplificar o desenvolvimento de programas e ensinar programação. Antes dele, porém já tínhamos o BASIC, fazendo a mesma coisa.

Deixado de lado pelos seus aparentes defeitos, e pela também aparente falta de capacidades para lidar com as modernas exigências de programação, o BASIC, que vinha por padrão em cada computador pessoal comprado na década de 1980, continua sendo a linguagem mais clara e simples para se programar qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, inclusive jogos em 3D e coisa e tal. Por isso a escolhi para dar um micro-curso para meus alunos, para que possam se introduzir no ramo da programação feliz. Ei-lo aqui, para sua alegria.

Há muito mais para se saber e se aprender sobre o BASIC-256. Os links nas lições podem levar a sites de interesse. Mas perca algum tempo tentando mexer diretamente nela,  e explorando o que oferece o site principal.

Categorias
Educação

Nossa pobre formação intelectual

O que faz alguém ser realmente bom no que faz?

Dizem-nos que aprender qualquer coisa requer tempo e dedicação, acompanhados do esforço constante, prolongado e refletido. Sabemos disso na prática, mas ainda assim mantemos a frágil esperança de um dia vir a aprender por osmose, aproveitando a preguiça essencial de nosso ser inculto. Será que não existe um atalho para a excelência? Não seriam os casos raros de gênios um favorecimento desonesto da genética?

O desempenho de alto nível em qualquer atividade só chega após 10.000 horas de prática, em média, como afirmam os especialistas:

Pesquisadores (Bloom (1985), Bryan & Harter (1899), Hayes (1989), Simmon & Chase (1973)) demonstraram que uma pessoa leva cerca de dez anos para se tornarem peritas em qualquer uma de uma grande variedade de áreas, includindo jogar xadrez, composição musical, operação de telégrafo, pintar, tocar piano, nadar, jogar tênis e pesquisar neuropsicologia ou topologia. A chave é a prática constante: não apenas fazer de novo e de novo, mas se desafiar em uma tarefa que está um pouco além da sua capacidade atual, de tentar, analisando o seu desempenho durante e após a prática, e corrigir eventuais erros. Em seguida, repita. E repita novamente. Não parece haver atalhos: até Mozart, que foi um prodígio musical aos 4 anos, levou mais 13 anos antes de começar a produzir música de primeira classe. Em outro gênero, os Beatles parecem ter surgido em cena com uma sequência de top hits e uma aparição no show do Ed Sullivan em 1964. Mas eles vinham tocando em pequenos clubes em Liverpool e Hamburgo desde 1957, e ainda que tivessem apelo das massas desde o começo, o seu primeiro grande sucesso, o Sgt. Peppers, foi lançado em 1967. Malcolm Gladwell relata um estudo feito com alunos da Academia de Música de Berlim, que comparou o terço superior, o médio e o terço inferior da classe, além de ter perguntado o quanto eles haviam praticado:

“Todos, de todos os três grupos, começaram a tocar mais ou menos na mesma época – cerca de cinco anos de idade. Naqueles primeiros anos, todos praticaram aproximadamente a mesma quantidade – cerca de duas ou três horas por semana. Mas em torno da idade de 8 anos, as diferenças começaram a surgir. Os alunos que acabariam como os melhores da classe começaram a praticar mais do que todos os outros: 6 horas por semana aos 9 anos, 8 horas aos 12 anos, 16 horas aos 14 anos, e cada vez mais, até que na idade de 20 eles estavam praticando bem mais do que 30 horas por semana. Com a idade de 20, os artistas elite tinham todos totalizado 10.000 horas de prática ao longo de suas vidas. Os alunos simplesmente bons totalizaram, por outro lado, 8.000 horas, e os futuros professores de música, um pouco mais de 4.000 horas.”

Pode ser então que 10.000 horas, não 10 anos, seja o número mágico. Henri Cartier-Bresson (1908-2004) disse que “Suas primeiras 10.000 fotografias são suas piores”, mas ele tirava mais de uma por hora. Samuel Johnson (1709-1784) pensa que pode levar ainda mais tempo: “Excelência em qualquer departamento só pode ser alcançada com o trabalho de uma vida, e não pode ser comprada por um preço menor.” E Chaucer (1340-1400) reclamou “ó vida tão curta, a arte tão longa para aprender”. Hipócrates (c. 400 a.C.) é conhecido pelo provérbio “ars longa, vita brevis”, que faz parte do trecho mais longo “Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile”, que em português fica mais ou menos “A arte é longa, a vida é breve, a ocasião é fugaz, a experiência é perigosa, o juízo é difícil”. Embora em latim “ars” possa significar tanto “arte” quanto “ofício”, no original grego a palavra “techné” só pode significar “habilidade”, não “arte”.

A citação acima vem de um excelente artigo de Peter Norvig, relacionado à excelência em programação. As referências que ele faz podem ser também lá verificadas.

A quase totalidade de todos os profissionais estuda muito menos do que 10.000 horas para poderem exercer suas profissões, o que nos faz pensar seriamente sobre a pobreza e deficiência de suas formações. Poucos realmente se dedicam para se tornar expoentes em seu campo de atuação. Considerando que um curso superior de 4 anos, em uma universidade federal, exige cerca de 3.000 horas de aulas e práticas, e que quase todos os alunos chegam lá sem saber absolutamente nada do que estudarão, podemos supor que os profissionais com curso superior no Brasil são mal formados, ou precisam de muito mais para se tornar profissionais destacados em seus campos. Mestrados e doutorados não fazem com que o sujeito alcance as 10.000 horas mágicas. Por outro lado, e considerando a Lei de Sturgeon, estamos bem além do necessário. Infelizmente.