Categorias
Geral

Email de graça, Facebook, etc., é para seu bem?

Acabei de receber um e-mail em que a remetente queria me vender 2 milhões (!) de e-mails por R$ 299,00. Esse é o tipo de comércio que acontece com seus dados, leitora descuidada, e com tudo o mais que você publica em redes sociais “gratuitas”.

Este é o conteúdo do e-mail:

Acabamos de extrair de nossos servidores de e-mail uma Lista contendo 2 Milhões de e-mails de Aberturas reais em nossas campanhas.(temos 6 servidores)

Lista dos últimos 2 meses. Ótima validação.

Lista filtrada, sem spamtraps, repetidos e inválidos.

Garantimos a alta qualidade nos e-mails.

Entrega imediata via E-mail

R$ 299,00 a vista.

Você quer? Não perca tempo, pois liberamos somente 6 unidades para venda, para tornar a Lista EXCLUSIVA.

Basta responder esse e-mail solicitando nossos dados!

Não pense que seus dados estão protegidos, livres de olheiros digitais de todos os tipos. Você está sendo vendido(a)!

Categorias
Geral Humor

A verdadeira leitura crítica

Minha gêmeas, Laura e Leonora, estão aprendendo a ler. As duas vieram perguntar se eu tinha “palavras para ler”. É claro que eu tinha!

O InformANDES, o informativo do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior, havia acabado de chegar. Como nele as letras são grandes e fáceis, chamei uma de cada vez para lerem um pouco. E elas leram: “Estudantes ocupam”, “Luta da mulheres”, “Direitos sociais”, “Fora Temer” e “Liberdade de expressão” (muito difícil!).

Logo depois me lembrei do ator José Wilker lendo a história da revolução russa em tom carinhoso para o filho recém-nascido. Essa é a verdadeira leitura crítica! 😀

Categorias
Esperanto Geral Línguas

Descubra o esperanto

Um livreto excelente sobre o esperanto:

Descubra o Esperanto

Categorias
Humor Religião

Intolerância religiosa: um experimento prático

Você acha que no Brasil existe tolerância religiosa? Pense bem depois de realizar o seguinte experimento.

É parte do discurso da maioria das religiões a pregação da tolerância, decerto mais por questões políticas do que morais, mas mantenho a hipótese contrária: cristãos – católicos, evangélicos, etc. – são intolerantes com crenças diferentes das suas. Isso parece bem óbvio, se pensarmos bem, mas bolei um experimento prático que pode provar isso.

Costumo viajar bastante de carro por pelo menos quatro regiões do Brasil. Em todas elas, vejo placas nas estradas, afixadas em árvores ou postes, com dizeres do tipo “Jesus retornará”, “Deus te ama”, ou com citações bíblicas as mais diversas. É notável também que esse proselitismo seja cristão e, consequentemente, monoteísta. Daí surgiu a ideia central do meu experimento: colocar placas do tipo “Deus não existe” em outros postes ou árvores pelas estradas, e verificar quanto tempo cada uma resiste até que alguém venha arrancá-la.

Se você gostou da ideia e deseja vê-la realizada, faça o seguinte:

  • mande pintar uma série de placas com os dizeres “Deus não existe”, ou pinte-as você mesmo, para reduzir custos;
  • determine os locais de fixação;
  • fixe as placas e anote o dia e a hora em que foram afixadas;
  • passe discreta e diariamente pelos locais das placas, verificando quanto tempo levou para que fossem destruídas, pichadas ou arrancadas.

Será preciso tomar uma śerie de medidas de segurança também, para escapar da inevitável violência que certamente será direcionada para quem for visto afixando as placas:

  • afixe as placas à noite;
  • vá com um carro velho, se possível com as placas cobertas;
  • escolha lugares afastados de casa, sem conhecidos por perto;
  • não leve crianças;
  • tome cuidado com a polícia.

Esses cuidados são básicos e autoevidentes. Em casos de medo extremo, ir de boné e óculos escuros, realizando o trabalho rapidamente

É interessante também, caso você veja alguém destruindo ou arrancando a placa, ir elogiar, criar um clima de amizade e perguntar para o vândalo qual sua filiação religiosa. Estatisticamente, há 90% de chances que seja cristão, segundo o censo de 2010.

***

P.S.: Um aluno meu, católico, confessou que teria medo de realizar o experimento. Segundo ele, é óbvio que ele iria apanhar se fosse pego afixando as placas. Também acredito que seja óbvio, mas gostaria de filmar isso.

Categorias
Educação Matemática OQEEM

A origem da palavra “matemática”

Ao contrário do que possa parecer, o significado da palavra “matemática” jamais foi estabelecido de maneira definitiva. Essa é uma observação importante, e corrobora a percepção de que o conjunto das coisas a que chamamos de matemática, seja o que isso for, não está bem definido.

Em vez de tentar definir o que seja matemática, vamos dar um passo atrás, mais modesto, e nos perguntar simplesmente: quando surgiu e a que se associou, durante sua longa história, a palavra “matemática”?

Antes da resposta, uma advertência: conhecer a origem da palavra não é o mesmo que conhecer a origem da coisa – no caso, a matemática – assim como também não implica dizer que matemática é hoje aquilo que foi um dia associado ao seu nome. Palavras e seus significados mudam com o tempo, e “matemática” não escapa a esse processo.

É costume suspeitar que os nomes das mais diversas ciências tenham origem em palavras gregas. Com exceção de um ou outro, como química, um palavra de origem árabe, a suspeita em geral se confirma: física, história, geografia e muitas outras são palavras derivadas de raízes gregas. Não deve nos espantar que matemática também o seja.

Nossa análise começa com a raiz grega math, ligada a noções como aprender e conhecer. Dessa raiz, muitas palavras são derivadas. Por exemplo, o verbo mantháno, que significa eu aprendo, eu conheço. Quem aprende é um mathetés, um aprendiz. Aquilo que um mathetés aprende é um máthema, um objeto de aprendizagem, objeto de conhecimento, cujo plural é mathémata. De máthema formamos o adjetivo mathematiké, que significa relativo ao conhecimento. Do adjetivo mathematiké derivamos o substantivo plural mathematiká, que se traduz como as coisas cognoscíveis. Este é o significado original de matemática: as coisas cognoscíveis, as coisas que podem ser conhecidas.

Observe que à palavra máthema se associa a um significado amplo. Tradutores costumam traduzi-la também como ciência, conhecimento ou mesmo matemática, segundo o contexto. No entanto, desde os tempos de Pitágoras (c. 570 – c. 495 a.C.), havia uma tendência a restringir seu significado a apenas alguns mathémata, como a aritmética, a geometria, a astronomia e a música, que viriam a ser conhecidos conjuntamente como quadrivium (a via quádrupla, em latim). Platão (428 – 348 a.C.) tendia a considerar esses assuntos como os mais importantes mathémata. Afirmava, porém, em seu livro República, que o principal máthema era a Ideia do Bem (Platão, 1990: 505a). Aristóteles (384-322 a.C.), o principal e mais influente discípulo de Platão, definia a matemática como a ciência da quantidade, e daí notamos o início da constituição do núcleo conceitual que serviria posteriormente para selecionar e classificar, dentre os mais diversos mathémata, aqueles que seriam ditos matemáticos.

Apesar da influência de Platão e Aristóteles, a restrição do significado não ocorreu como imaginamos. O filósofo grego Sexto Empírico (c. 160 – c. 210 d.C.), que viveu cerca de seis séculos depois de Platão, usava o termo matemático para designar aqueles que hoje chamamos de professores. Em sua obra Contra os matemáticos, Sexto Empírico envidou uma crítica aos professores de gramática, retórica, geometria, aritmética, astrologia, música, lógica, física e ética. Todos esses profissionais, dedicados ao estudo e ao ensino dessas disciplinas, eram considerados matemáticos: estudavam e ensinavam mathémata.

E o processo de significação continuou. Gramáticos, retóricos e éticos deixaram de ser chamados de matemáticos enquanto o quadrivium –  aritmética, geometria, astronomia e música –  se tornava um critério para decidir o que é e o que não é matemática. O que se assemelhasse a algum dos mathémata do quadrivium, ou deles faziam uso, seria dito matemática. Mas será que esse critério se estabeleceria como definitivo?

Historicamente, temos nos deparado com problemas e situações que continuamente exigem a criação novas categorias e de novas lógicas que reordenem a massa de nossos conhecimentos. Por exemplo, o trabalho atual dos linguistas consiste em localizar nas línguas padrões repetitivos e suficientemente estáveis que são formalizados em uma linguagem a que chamaríamos de matemática. O que pensar disso? Um rápido exercício de futurologia, pensando acerca do que será considerado matemática daqui a, digamos, 100 anos, nos deixa com a questão: será que o significado de matemática voltará a ser tão amplo como o foi uma vez com Sexto Empírico?

Essas considerações nos indicam que a palavra matemática está sujeita, como toda palavra, a uma dinâmica de inflação e deflação de significado: às vezes bastante amplo, às vezes mais restrito. É como uma lenta respiração que leva séculos para se realizar.

É importante saber também que o significado da palavra matemática não é estabelecido por obra de um filósofo ou de um cientista particular, mas pela comunidade que a estuda e a utiliza. Significados não sou obras de indivíduos, mas de sociedades e de instituições que os selecionam em um processo semelhante ao da evolução biológica. A vida das palavras, assim com a dos seres vivos, está sempre indeterminada, e ligada a seu entorno social e material.