Quais são os conceitos que as línguas empregam para lidar com o real? Essa pergunta, de raízes ancestrais, tem chamado minha atenção por ser bastante geral e suficientemente profunda para dar início a uma reflexão série acerca da criação de línguas planejadas.
A ideia é questionar tudo, desde perguntas que partem de conceitos gramaticais tradicionais (Artigos são necessários? A divisão de gêneros é necessária?) até noções gerais de que uma língua costuma tratar (Como expressar tempo? Como expressar relações espaciais?). Em última análise, estamos perguntando como uma língua expressa os elementos mais comuns da realidade cotidiana. Não pretendemos criar línguas filosóficas perfeitas, mas línguas faláveis e expressivas, ficcionais, auxiliares ou lógicas, com grande consciência acerca do conjunto de conceitos que incorporam em seus elementos gramaticais.
Respondendo as questões feitas no parágrafo anterior, sabemos que artigos definidos ou indefinidos não são necessários: o latim e o russo não os conhecem. Sabemos que divisão em gêneros não são obrigatórias: o finlandês e o húngaro têm um só pronome para o masculino e o feminino. Como o tempo é expresso? É possível criar uma śerie de tempos verbais, com sutilezas de aspectos e tudo o mais, mas a verdade é que fatos ocorridos e fatos ainda não ocorridos, assim como os que estão em curso, podem ser expressos sem a necessidade de flexões verbais, como o chinês faz. O mesmo com as relações espaciais.
Ao pensar um pouco mais acerca de como uma língua expressa o mundo, percebemos que sua utilidade depende muito de sua imprecisão e daquilo que alguns filósofos consideram “defeitos”, como a polissemia e a assimetria de formas. Se essas características são expressões materiais de como a mente funciona, seria possível falar, rigorosamente, uma língua lógica? E seria possível criar um língua absolutamente sem ambiguidades? Abordaremos essas questões nas próximas postagens.