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Política Software livre

Facebook não é seu amigo

Mas persistimos no erro…

Alguém, um dia, fez com que eu me sentisse um completo idiota por ter abandonado o Facebook. Não: foram, e tem sido, quase todo mundo. Por que insisto?

Há tempos não uso mais Windows. Afinidades com o mundo do software livre me fizeram passar pela porta estreita da reflexão sobre como estamos entregues – e somos controlados – pelas grandes empresas da internet. Coisa de maluco, eu sei , ficar falando dessas coisas, mas tenho 5 filhos para criar, e não desejo que eles se tornem sequer próximos dos meus alienados alunos universitários. Explico por quê.

Há pouco tempo, revelou-se ao mundo que a NSA, a Agência Nacional de Segurança dos EUA, desde 2007, com anuência do Congresso Americano, espiona cidadãos do mundo todo, inclusive brasileiros, através de grandes empresas como Apple, Facebook, Google e Microsoft. Esta, aliás, foi a primeira a aderir ao projeto de espionagem, em 2007. (Não se iluda: a cada busca que você faz DENTRO de seu computador – observe, não é na internet -, o Windows envia para os servidores da Microsoft sua atividade, o que você tem no computador, e tudo o mais que for possível, inclusive de quais sites você baixa seus filmes pornôs. Éééé… )

Essa revelação, feita por Edward Snowden, um ex-agente da NSA, causou revolta e furor no mundo inteiro, e revelou que os EUA eram até ingênuos em espionagem, como nos mostra o caso Tempora inglês. Enfim, morrendo de medo de terrorismo, os EUA e outros países estão vendendo liberdade por segurança, e em breve não terão nem uma nem outra, como já advertia, há mais de 200 anos, um dos pais da pátria americana, Benjamin Franklin.

Dizem que a ABIN brasileira, nossa tosca Agência de Informação, grampea o WhatsApp do povo todo, e também o Instagram e o Twitter, para começar (ela não tem dinheiro para mais…) agindo de forma absurdamente ilegal aqui mesmo no nosso quintal. E com que finalidade? Controlar os protestos que vimos e temos visto desde princípios de junho deste ano.

Daí,  se você acha que o problema é privacidade, você ainda está no primeiro passo. Se você acha que podem te espionar, pois você não tem nada a esconder, você não captou a mensagem: o governo está interessado em mantê-lo sob controle através da negação de seus direitos fundamentais de cidadão. Ainda que esses gritos de alerta tenham se tornados aparentemente obsoletos, eles têm sido confirmados pelos atuais acontecimentos. Preocupar-se com a bisbilhotice do governo não é questão de manter privacidade, mas a de responder afirmativa ou negativamente à pergunta: você quer viver sob um estado policial que controla e nega suas liberdades fundamentais como ser humano?

O caminho é longo. Doloroso às vezes, mas gratificante emocionalmente. Foi quando abandonei meu email no Gmail, quando percebi que precisava pagar por um serviço de email, eu entendi como é caro ter um email. Não só financeiramente, mas politicamente. Outlook, da Microsoft, Gmail, do Google, e por aí vai, são armadilhas de controle social nas mãos de grandes empresas. O governo não precisa gastar um centavo para espionar seus cidadãos: basta associar-se às empresas, cedendo-lhes favores, como isenção de impostos e coisa e tal, para ter acesso aos dados que elas coletam – e vendem, a preços altíssimos – sobre você.

Em verdade, eu me sinto me libertando tanto da Matrix, enquanto noção de que a realidade é fabricada por outrem para nos controlar, como da verdadeira Matrix, aumentando minha consciência política, social, e até como consumidor (por exemplo, não compre pela Amazon, que maltrata e desrespeita seus empregados). Não é fácil começar, mas talvez este vídeo, do Richard Stallman (quem é Richard Stallman?) ajude um pouco. Simples e educativo.

Se você algum dia se decidir a trocar o Windows, o MacOS ou outro sistema operacional pago – e traiçoeiro – por algum sistema operacional livre, como o Linux, o site a seguir é de visita imprescindível: https://prism-break.org/

Por Frederico Lopes

Frederico Andries Lopes é doutor em Educação Matemática pela UNESP/Rio Claro e professor associado do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá.

É tradutor de textos antigos de matemática escritos principalmente em latim. Já publicou livros sobre o uso educativo de linguagens de programação, sobre gramática latina e história da matemática.

É pai orgulhoso dos trigêmeos Henrique, Ricardo e Valquíria e das gêmeas Laura e Leonora. Cuidar dessa turma é sua principal atividade. Tudo o mais são distrações e difficiles nugae.