Na tentativa de domar a multidão de conlínguas que surgiam, os linguistas criaram a clássica distinção entre conlíngua a priori e conlíngua a posteriori. Como muitas outras, esta é uma classificação que não tem fronteiras bem definidas, além de não ser devidamente utilizada. Mas o que significam esses termos?
Uma conlíngua a posteriori é baseada em línguas naturais. O termo a posteriori, em si, indica que a conlíngua em questão veio depois das línguas naturais em que se baseia. Uma língua a priori, por sua vez, é pensada sem línguas naturais em mente, uma criação que se dá muitas vezes por puro devaneio linguístico.
Mas uma vez que todas as conlínguas, se planejadas para serem faladas, sempre acabam se baseando em conceitos de natlínguas, essa classificação não é muito precisa. E mesmo que por oposição: a Klingon foi deliberadamente construída para se localizar o mais distante possível das línguas humanas. A ordem mais comuns das palavras em Klingon, por exemplo, é objeto-verbo-sujeito (ordem OVS), o que rarissimamente encontramos em natlínguas. A língua indígena tapirapé, do Brasil, é uma delas (mas ordem objeto-sujeito-verbo – OSV – é ainda mais rara).
Uma língua genuinamente a priori, a rigor, não existe. Mesmo as línguas a priori dos śeculos XVI e XVII, por mais esquemáticas que sejam, acabam importando ideias simples de natlínguas, como a existência de substantivos e verbos como classes distintas de palavras. A não ser que consideremos algumas línguas de programação exóticas, como a Brainf*ck e a Piet, uma pitada conceitual a posteriori acaba se introduzindo nas línguas a priori.
Mesmo imperfeita, essa classificação é popular, e por isso não vamos dispensar seu uso quando precisarmos nos referir a línguas extremamente estranhas e bem distantes das práticas linguísticas naturais.